Dança, percussão e desfiles alusivos à íntima relação entre África e Brasil, realizados na manhã desta sexta-feira (22), no Terreiro de Jesus, integraram as apresentações do Projeto Axé em homenagem ao Dia Nacional da Consciência Negra, celebrado na última quarta-feira (20). A programação, que segue até o fim da tarde de hoje, envolve jovens participantes do projeto, bem como alunos de escolas municipais da região, e busca ainda valorizar e enaltecer a arte e a cultura afro-brasileira.
Com 34 anos de existência, o Projeto Axé é parceiro da Prefeitura de Salvador através de convênio firmado com a Secretaria Municipal de Promoção Social, Combate à Pobreza, Esportes e Lazer (Sempre), com projetos de iniciação artística junto a 520 pessoas em situação de vulnerabilidade social. Dentre as atividades realizadas neste dia, estão ações arte-educativas, com encenação de teatro de rua, desfiles de moda axé, capoeira, dança afro e oficinas para confecção das bonecas abayomi.
Além disso, no turno vespertino, o projeto reserva apresentações com Orquestra de Berimbaus, roda de capoeira, e oficinas de tranças e torços, entre 13h30 e 16h. Às 14h30, é realizado o Encontro Percussivo do Projeto Axé, com participação do afoxé Apaxes do Tororó, e dos blocos afro Ilê Aiyê, Muzenza e Cortejo Afro, em homenagem às comunidades periféricas da capital baiana.
O evento conta ainda apresentações como o teatro de rua “Vista Minha Pele”, realizado por educadores(as) da educação de rua, um desfile com educandas da ModAxé e rodas de capoeira com alunos da Unidade de Arteducação Augusto Omolú de Dança e Capoeira. Além disso, as crianças que estiverem presentes poderão participar de oficinas criativas, como Cabelo de Lelê, confecção de Abayomi, pinturas com heróis pretos e brincadeiras africanas.
Antirracismo – A gerente de Produção Executiva e Comunicação do Projeto Axé, Regina Moura, afirma que o evento mantém acesa a resistência de 34 anos do projeto. “Aqui atendemos sujeitos periféricos, negros dessa cidade mais negra fora da África, oferecendo arte e educação. Hoje estamos ajudando a engrandecer esse Terreiro de Jesus com música, dança, capoeira e artes visuais”, relata.
A gerente de Educação de Rua do Projeto Axé, Tatiana Vaz, destaca que o trabalho em favor da consciência negra deve acontecer todos os dias. “Por mais melhorias que nós tenhamos alcançado, como as cotas e o ensino da história do povo afro nas escolas, a gente entende que há muito ainda para conquistar. O racismo está aí, o nosso povo ainda é muito massacrado. Nas prisões, 70% da população é negra. Vemos também que os desempregados, a população mais pobre, as pessoas que estão nas comunidades são as pessoas pretas”, alerta.
A gestora defende que a educação é o caminho para a cultura antirracista. “Então, para a gente ser antirracista, precisamos ensinar às nossas crianças que precisam ter a consciência do que é ser negro na sociedade. Para promover esse antirracismo, é necessário adotar ações de mobilização. Quando o Projeto Axé vem para as ruas é para poder incomodar a sociedade, para dizer que o povo preto não está só nas prisões, mas ele está na televisão, nos meios de comunicação”, reforça Tatiana.
Integrante do projeto e uma das mais animadas durante a apresentação no Terreiro de Jesus, a artesã Lorena Vitória, de 21 anos, faz parte de um grupo que apresentou uma exposição sobre máscaras africanas e fala sobre o valor de celebrar a consciência negra. “A importância vem da luta que a gente tem todo santo dia contra o racismo, além de exaltar a beleza negra e mostrar que a cultura negra é maravilhosa do jeito que ela é, sem precisar tirar e nem acrescentar nada”, diz.
Reportagem: Ana Virgínia Vilalva e Eduardo Santos/Secom PMS