Dezenas de milhares de pessoas fugiram das suas casas em uma região rural de al-Fashir, disseram ativistas, após um ataque de paramilitares das Forças de Apoio Rápido (FAP) que lutam para tomar o último reduto do exército na região ocidental de Darfur.
As tropas da FAP atacaram e saquearam o vasto campo de Abu Shouk na quarta-feira (22), matando um número desconhecido de pessoas e ferindo pelo menos 13, disseram moradores locais, mais de um ano após o início da guerra no Sudão.
Cerca de 60% dos mais de 100 mil habitantes fugiram na quinta-feira (23), segundo o Comitê Coordenador para Refugiados e Pessoas Deslocadas do Sudão, que supervisiona os campos na região. Os combates continuaram em outras partes de al-Fashir na sexta-feira (24), disseram moradores locais.
A FAP e os seus aliados varreram outras quatro capitais de estado de Darfur no ano passado e foram responsabilizados por uma campanha de assassinatos de motivação étnica contra grupos não-árabes e outros abusos no oeste de Darfur – acusações que eles negaram.
Não houve comentários imediatos da FAP ou do exército sudanês sobre os últimos confrontos em al-Fashir, um centro histórico de poder.
O conselheiro especial da ONU para a prevenção do genocídio disse esta semana que havia risco de genocídio e alegações de que já estava ocorrendo.
Civis em al-Fashir e em outras partes de Darfur eram poupados ou não dos ataques com base na sua identidade e cor da pele, disse Alice Wairimu Nderitu ao Conselho de Segurança da ONU nessa terça-feira (21).
Abu Shouk é o lar de sobreviventes da violência em Darfur há duas décadas, onde as milícias Janjaweed, precursoras da FAP, lutaram ao lado do exército sudanês e foram acusadas de genocídio.
Cerca de meio milhão de pessoas mudaram-se para al-Fashir durante a guerra em curso que eclodiu entre o exército e a FAP na capital Cartum, em abril de 2023, à medida que as tensões latentes sobre a integração das duas forças chegavam ao auge.
Pelo menos 85 pessoas morreram no único hospital em funcionamento no sul de al-Fashir desde 10 de maio, segundo a Médicos Sem Fronteiras (MSF).
O número total de vítimas é muito maior, já que os civis atingidos pelos combates no norte, leste e sul da cidade não conseguiram chegar aos médicos, dizem a MSF e moradores da região.
A MSF acusou as forças militares de usar escudos humanos, bem como de realizar extensos ataques aéreos, incluindo a destruição da central elétrica de al-Fashir.
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